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O cão, o cavalo e Nietzsche

Autor - Amélia de Fátima Aversa Araújo - em 

8 de outubro de 2020 - Atualizado às 10:55

No começo de julho, na região metropolitana de Belo Horizonte, um cachorro de dois anos, pit bull, envolveu-se em atrito com o cachorro do vizinho. Consta que o cão foi amordaçado com arame por dois homens (um deles era o vizinho) e teve as pernas traseiras decepadas a golpes de facão, sendo deixado para morrer. O referido vizinho já teria quebrado a coluna vertebral do pai desse cão. Consta que agressor em questão iria ser multado também por maus tratos a treze animais sob sua responsabilidade (cães, gatos e aves). O cão sobreviveu e está se adaptando a um artefato com rodinhas.

Maus-tratos contra animais configura crime ambiental.

Friedrich Nietzsche, em 1889, em Turim (Itália), deparou-se com um cocheiro que chicoteava fortemente o seu cavalo porque este não andava, exaurido que estava. O filósofo repreendeu o cocheiro e abraçou o pescoço do animal, que desabara. Nietzsche chorou e murmurou algumas palavras ao ouvido do animal, que ninguém soube o que eram. Talvez um pedido de perdão em nome da humanidade, talvez um sintoma do colapso que o acometeria depois do ocorrido. Nietzsche foi detido, na ocasião, por perturbar a ordem pública. Ele ficou sem falar por mais de 10 anos, até sua morte. Quanto há de lenda, e de realidade, no episódio?

Se fosse possível, mais de cem anos depois, diante da crueldade e da insensatez, talvez Nietzsche tivesse chorado de novo. Mas, de que adiantaria?

Amélia de Fátima Aversa Araújo

#aversaaraujoadvogados

Ilustração: “Cavalo e dois cães em uma paisagem”, 1891, Henry Ossawa Tanner.