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Sexta-feira. E treze!

Autor - Amélia de Fátima Aversa Araújo - em 

13 de maio de 2022 - Atualizado às 18:07

(republicação – artigo de 13/03/2020)

São muitas as teorias sobre as superstições envolvendo o número treze e as sextas-feiras. Algumas, fincadas em acontecimentos históricos; outras, não passíveis de comprovação. De número afortunado, o treze passou a ser de má-sorte. A ideia de que bruxas se reuniriam sempre em número de doze, mais o diabo, totalizando treze, e numa sexta-feira, somente fez aumentar o sentimento de desconforto.

Alguns, pelo sim, pelo não, não arriscam. Há prédios em que falta o 13º andar, ou o conjunto de número 13. O Código de Hamurabi já não tinha o dispositivo treze.

Junte-se a isso um gato preto. Se for noite de lua cheia, então, o prato fica completo.

Há quem se aproveite dos receios mais atávicos e arraigados nos seres humanos, que somavam a escuridão da noite com a ausência de explicações, e que permaneceram como memória residual, constantemente compartilhada, modificada e multiplicada.

Há quem pratique diversos crimes nessas ocasiões, muitos de notável gravidade: crueldade contra animais, violação de sepulturas, vilipêndio a cadáveres, estelionato, tortura, estupro, homicídio.

No terreno das contravenções, a “Lei das Contravenções Penais” (Decreto-Lei nº 3.688/1941) possuía um artigo assim redigido: “Art. 27. Explorar a credulidade pública mediante sortilégios, predição do futuro, explicação de sonho, ou práticas congêneres: Pena – prisão simples, de um a seis meses, e multa”. A conduta tipificada voltava-se ao aproveitamento da ingenuidade, influenciando as vidas das pessoas ao predizer o futuro, utilizando-se de mandingas e bruxedos, com ou sem fim de lucro. Cultos atinentes às religiões não integravam o tipo. O que se punia era a fraude, o fazer crer no que era falso, o agir como impostor. Esse artigo foi revogado pela Lei nº 9.521/1997.

O imponderável mudou as vestimentas, modernizou-se. As preocupações ficaram sofisticadas, globalizadas: epidemias, terrorismo, genocídios. E ainda há os “pequenos” crimes, isolados entre os bilhões de pessoas que compõem a humanidade, assombrosamente cruéis e inacreditáveis, comunicados instantaneamente para todos os cantos do globo. Mas os medos ancestrais continuam espreitando.

Assim caminha a humanidade, como já se disse.

Amélia de Fátima Aversa Araújo

#aversaaraujoadvogados

Ilustração: “A vidente”, detalhe, 1731, Jean-Baptiste-Joseph Pater, Museu de Arte de Los Angeles.