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Sobre advogados e pais

Autor - Amélia de Fátima Aversa Araújo - em 

10 de agosto de 2019 - Atualizado às 17:30

Os estudiosos dizem que, para evitar a extinção de uma espécie, é necessário que se preserve um certo número de indivíduos, os quais se reproduzirão, garantindo a diversidade genética e sua perpetuação. Há que se pensar nos genes recessivos perigosos. Para os seres humanos, segundo alguns, esse número seria de, no mínimo, 160 pessoas.
Convido a um exercício de imaginação. O apocalipse às portas, em forma de catástrofes naturais, biológicas, cósmicas, alienígenas, tecnológicas, levante de robôs, zumbis. A humanidade prestes a desaparecer. Algumas pessoas (160) serão escolhidas para, lançando-se rumo ao espaço, perpetuarem a espécie.
Os recursos são muito limitados, o risco é grande. Suponhamos, também, que, por um milagre qualquer, não interviessem odiosos privilégios, vis negociatas, corrupção generalizada, falcatruas e ardis em geral, chantagens e violências, e que, somente aqueles que pudessem representar a humanidade fossem enviados para semear a civilização humana, numa tentativa de se evitar o seu desaparecimento.
Quem seria enviado? Além da indefectível variedade genética e da necessidade de se adaptar ao ambiente, quais profissões, talentos e habilidades seriam escolhidos? Que qualidades fariam de alguém um candidato a essa lista?
A máxima de Ulpiano sobre a justiça poderia valer como um critério? Seria, ao menos em tese, digno de ser escolhido para essa empreitada, quem não prejudicasse ninguém, vivesse honestamente, e desse a cada um o que lhe pertence. Alguém justo.
E se armazenássemos no coração esse traço distintivo da espécie?
Os advogados deveríamos viver, a cada dia, como se fôssemos um dos 160.
Os pais deveríamos ensinar isso aos nossos filhos.
Amélia de Fátima Aversa Araújo
Ilustração: “Inocente”, detalhe, 1859, Abraham Solomon, Getty Center, Los Angeles.