Autor - Amélia de Fátima Aversa Araújo - em
5 de maio de 2021
- Atualizado às 14:55
Que tempos perturbados (e perturbadores) são esses? Três bebês (todos com menos de dois anos de idade), uma professora (de 30 anos) e uma agente educacional (de 20 anos) foram mortos brutalmente, a golpes repetidos de facão, dentro de uma creche na cidade de Saudades, em Santa Catarina. Outro bebê se encontra em estado gravíssimo.
O agente, um rapaz de 18 anos, não logrou seu intento de tirar a própria vida, e está internado em um hospital da região. Em sua casa, onze mil reais em dinheiro e duas embalagens com facas novas. Ele não tinha antecedentes criminais. Certamente surgirão explicações apontando patologias mentais, desajustes, medicamentos (ou a falta deles), pressão ou abandono familiar, drogas ilícitas, embriaguez, imitação de jogos, violência presente na mídia e redes sociais, ou escores variados de psicopatia. Alguém lançará a culpa na pandemia. Serão indigitados outros “responsáveis”? Por omissão, por negligência, por instigação? Nada se sabe. A alma se cala, gelada e incrédula.
Se ele for considerado imputável, evidentemente responderá por crimes de homicídio em concurso, consumados e tentados. Há qualificadoras, causas de aumento de pena. A extrema gravidade das infrações consta na lei.
Mas o que a lei não sanará, jamais, é o fato de que muitos outros, além dos que perderam a vida, foram “mortos”, destruídos ou afetados indelevelmente por esse comportamento: todos os familiares das vítimas, sem dúvida, e os amigos, os professores, os vizinhos, e os próprios familiares do agente. As pessoas todas, com um pingo de empatia e humanidade, ficaram aterradas e foram atingidas por essa notícia.
Essa cidade, de nome tão doce, terá na memória o horror indizível desses crimes. Horror, horror.
Amélia Aversa Araújo
aversaaraujo.com.br
Ilustração: “Cena do massacre dos inocentes”, detalhe, 1824, Léon Cogniet, Museu de Belas Artes de Rennes (Bretanha, França).