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Sobre o Dia dos Pais

Autor - Amélia de Fátima Aversa Araújo - em 

8 de agosto de 2020 - Atualizado às 17:53

E apesar de tudo, o ano de 2020 trouxe o Dia dos Pais. E o que sabemos sobre os pais? O que sentimos sobre os pais? É um saber-sentir ou um sentir-saber?

No início, o ano trouxe um tipo de peste, e entre clamores e divergências, a separação. Não abraçar, não estar perto, não beijar, não visitar. Isso vale para os pais que estão aqui. Há os muito jovens, e os já grisalhos, os saudáveis e os adoentados, os que são companheiros e os distantes, os que sonham e os que não sabem o que é isso, os que orientam e cuidam e os que precisam de cuidados. São pais. São humanos.

E os pais que já não estão, parece-me agora, partiram numa quarentena imaginária e infindável. A quarentena para nunca mais, o isolamento mais calado, as mãos frias sem um adeus. As conexões de vídeo fragmentadas, o áudio que falha, imagens que se congelam em quadros bipolares, fisionomias fraturadas e sílabas perdidas em longos silêncios, vazios como poços antigos, escavados no peito. Os sussurros que escapam do coração e perdem-se dentro de nós.

Dizem que os que partiram não morrem de fato até que sejam esquecidos. Que não morram jamais, enquanto vivermos, é o meu melhor desejo.

Que o Dia dos Pais seja feliz!

Amélia de Fátima Aversa Araújo
Ilustração: “A criação de Adão”, detalhe, c. 1508-12, Michelangelo, afresco, Capela Sistina, Vaticano.